quando eu digo que sou muito parvo e extremamente distraído, algumas pessoas tendem a não acreditar. no entanto, noites como a de hoje comprovam-no categoricamente.
despachada a reunião realizada tarde e a más horas, vi-me obrigado a fazer um contra-relógio até ao coliseu dos recreios, onde certamente a adriana calcanhoto não esperaria por mim para começar a cantar. se lisboa fosse monte carlo e tivesse uma prova de fórmula 1 a percorrer as ruas da cidade, eu era rapazinho para ter a pole-position garantida. e também um book fotográfico nos arquivos dos radares da capital.
enfim. com a sorte descomunal que me é característica para arranjar lugar para estacionar em locais impossíveis, lá consegui chegar ao coliseu a horas decentes.
não se vislumbravam grandes aglomerados de pessoas, e foi com alguma facilidade que cheguei ao balcão para levantar o meu bilhete. já mais descansado, dirigi-me a uma colega que estava em trabalho e depois de uma breve troca de palavras comentei:
- pensei que o coliseu estaria mais composto.
- sim, mas ainda é cedo. o concerto só começa daqui a uma hora.
ponto da situação: hora do concerto -22h / hora de chegada do estúpido - 20h50 / hora do concerto na cabeça do estúpido - 21h / estado do estúpido - sem jantar. com fome.
fiz o meu sorriso de bolso nº 42 e fugi para um café próximo, a fim de inserir qualquer coisa no estômago que já fazia ruídos semelhantes ao de um casal de hipopótamos a procriar.
ver também: elefantes.ver também: rinocerontes.não que eu alguma vez tenha ouvido casais de hipopótamos a procriar, mas não consigo imaginar dois hipopótamos a serem meiguinhos e a fazer cafuné durante o coito.
... ok, talvez a popota.
já mais aconchegadinho, lá rumei eu à sala do coliseu, preparado para assistir ao meu primeiro concerto sozinho. logo à minha frente, um casal na casa dos trinta e poucos anos dava beijos que mais pareciam endoscopias. terminada a inspecção ao estômago, o senhor vira-se para o outro lado, dá um beijo na testa de uma senhora mais velha e diz: 'a ti dou com respeito, mãe.'
felizmente, as luzes apagaram-se, o freak show acabou, e a adriana entrou em palco. de havaianas.
a senhora cantou, tocou, interagiu aqui e ali com esporádicas frases curtas, e rapidamente conquistou o público com algumas das suas canções mais famosas. tudo parecia correr bem até que a adriana partimPUM.
passo a explicar: lembram-se do jogo do quarto escuro? foi igual, tirando a parte dos apalpões. à excepção do casal em frente.
pois é, um corte de energia no coliseu.
como é normal nestas situações, todo o staff desapareceu e não havia ninguém para dar satisfações. entre reclamações cá fora, e palminhas lá dentro, passou-se quase meia-hora até que a luz voltou... mas não o som.
a adriana, de boa fé, e sem microfone, cantou mais três músicas para os presentes, que a aplaudiram de pé. mesmo não conseguindo ouvir praticamente nada.
e foi assim, a minha primeira experiência sozinho num concerto, e que vem comprovar que a minha relação com o coliseu começa a tornar-se muito especial. para quem não se recorda ou não leu, é favor consultar este
post.
na próxima vez que lá for, prometo avisar aqui com alguma antecedência. garanto-vos que pode ser um espectáculo memorável!